O PAPEL DA FAMÍLIA NA RELAÇÃO DA CRIANÇA COM OS ALIMENTOS

*Por Maíra Barros e Vanessa Fontes

Como a família pode ajudar a melhorar a relação da criança com os alimentos?

O momento das refeições com seu filho já virou campo de guerra e você quer desistir da batalha? Então nem entre nela, pois este, absolutamente, não é um momento que deve gerar estresses e tensões. Vamos conversar neste post sobre como é o desenvolvimento da relação da criança com os alimentos e o papel da família nesse processo.

A RELAÇÃO DA CRIANÇA COM OS ALIMENTOS

O comportamento alimentar tem suas bases na infância, uma vez que esse é um momento de extremo desenvolvimento e aprendizado. Época de grandes descobertas, de exploração do mundo ao redor, de vivência de diversas experiências e que serão extremamente importantes na formação de hábitos, inclusive alimentares, que levará para toda a vida. As crianças passam por uma fase de adaptação sobre os diferentes tipos de alimentos. Texturas, cores, sabores, sendo completamente normal, em certas ocasiões, ela aceitar bem determinado alimento e em outras ela recusar. Assim como os adultos, elas tendem a escolher os alimentos de acordo com suas preferências.  As alterações de aceitação e recusa são próprias da idade e é o ponto chave para a família atuar e evitar que os momentos das refeições se tornem angustiantes para os pais e também para as crianças.

 QUAL É O MOMENTO ONDE TUDO PODE COMEÇAR A DIFICULTAR?

É depositada uma grande expectativa sobre a alimentação da criança para que seja perfeita e, normalmente, gera uma enorme frustração. Aqui estão alguns “porquês” que podem desencadear as dificuldades de relação da criança com os alimentos e preparações, principalmente verduras, legumes e frutas.

A formação inicial do hábito alimentar infantil inicialmente dependerá exclusivamente da alimentação adequada/inadequada da família. A criança irá escolher os alimentos que diariamente estão disponíveis em casa, de fácil acesso. Dois acontecimentos comuns e que são os principais causadores do hábito alimentar inadequado da criança são:

1. Ao recusar a alimentação, é comum que sejam ofertados à criança alimentos de sua preferência e que, geralmente, são opções menos saudáveis, para não a deixar com fome. Ao fazer essa troca, as crianças tendem a ficar com fome à espera do alimento/preparação de sua preferência, que geralmente são guloseimas e afins.

2. A recusa a alimentação ou aversão a determinados alimentos pode estar associada à pressão da família à mesa ou a chantagens (como por exemplo, ganhar algo caso consiga comer), o que torna a relação com aquele momento ou com aquele alimento extremamente desagradável.

A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA SOBRE A ALIMENTAÇÃO DA CRIANÇA

A influência da família na formação desses hábitos nos primeiros anos de vida é enorme. É a família que compartilha e oferta a alimentação. Por isso, é responsável não somente pela nutrição física, por meio do alimento propriamente dito, como também pela nutrição não física, aquela carregada de afeto, sentimentos e que proporciona vínculo emocional.

A conscientização sobre a importância dos cuidados da alimentação do bebê/criança deve começar antes mesmo da concepção e da gestação. Grande parte da saúde nutricional do bebê dependerá das condições de saúde da mãe antes mesmo da gestação. Durante a gestação, o bebê tem os seus primeiros contatos com os sabores dos alimentos que a mãe consome, devido ao sabor levemente passado para o líquido amniótico, iniciando a formação dos seus hábitos alimentares.

O papel da família se inicia na amamentação, quando se estabelece o primeiro vínculo afetivo entre mãe/cuidador e filho, por meio da alimentação. Depois desse período, a alimentação complementar entra em cena, e a forma como ela é introduzida, faz toda a diferença na constituição dos hábitos alimentares.

Após a introdução alimentar, que se estende até os dois anos de idade, temos uma rotina alimentar mais estabelecida, mas não devemos achar que não sofrerá mais interferências. A rotina alimentar ocorre não somente em função da família, mas também da escola, dos amigos, dentre outros sujeitos que participam da vida da criança. Sendo assim, a família tem responsabilidade não somente pela influência direta, mas também por orientar, conversar e ensinar a criança sobre os alimentos e refeições, determinando o comportamento alimentar familiar.

A importância da família se estabelece no momento do planejamento, compra e preparo dos alimentos, na forma como compartilha e disponibiliza a refeição e no exemplo ofertado a criança. Sabe-se que na infância o aprendizado ocorre por meio da imitação, a criança utiliza as pessoas ao seu redor como modelos a serem copiados. Por isso, para que seu filho aprenda a comer determinados alimentos é importante que ele o veja consumido, de preferência junto a ele, em um momento de troca e partilha da refeição.

O comer junto, a família reunida, além das memórias afetivas que cria, proporciona prazer e satisfação, criando uma relação agradável com o alimento. Compartilhe desses momentos com seu filho, aproveitando para conversar e explorar os atributos sensoriais dos alimentos (cor, textura, odor, sabor) que são tão importantes para o aprendizado do comer. Como vimos, as experiências à mesa prazerosas ou não podem induzir a preferência ou a rejeição aos alimentos.

Além disso, a disponibilidade dos alimentos é essencial para a formação de hábitos alimentares.  A escolha por determinados alimentos em detrimento de outros acontece em função não só das preferências alimentares, mas também da sua disponibilidade. Evite deixar na dispensa produtos ultra processados e de baixo valor nutricional, tenha sempre nas prateleiras mais baixas dos armários, da fruteira e da geladeira, frutas e legumes, tornando-os mais acessíveis a criança, para que a mesma possa ter autonomia de fazer suas escolhas.

E para encerrar, lembre-se de incluir seu filho no processo e planejamento das refeições. Peça-o para auxiliar nas tarefas relacionadas e, quando tiver em idade apropriada, leve-o a cozinha para que possa descobrir a magia e o encanto de cozinhar. Desperte essa curiosidade e esse encantamento convidando-o a acompanha-lo nas compras em feiras, mercados e outros locais onde há oferta de alimentos in natura. Estimule a criança a conhecer e experimentar de uma forma leve novos alimentos e aumentar seu repertório alimentar.

Lembre-se: cuidar da alimentação do seu filho é um dos ensinamentos e cuidados mais preciosos que você pode deixar. A criança se sentirá segura a fazer boas escolhas alimentares e proporcionará um grande bem-estar físico, mental e social.

5 ESTRATÉGIAS E UMA REGRA DE OURO QUE A FAMÍLIA PODE ADOTAR PARA MELHORAR A RELAÇÃO DA CRIANÇA COM OS ALIMENTOS

  1.  Desligue os aparelhos eletrônicos. Evite distrair a criança no momento das refeições com aparelhos eletrônicos ou outro artifício. Deixe que a refeição seja um momento de socialização entre a família e a criança;
  2. Tenha horários regulares. Os horários das refeições devem ser estabelecidos de forma regular para que se crie uma rotina adequada. Entretanto, sem rigidez ou autoritarismo, que podem dificultar a criança a respeitar seus sinais de fome e saciedade e levar a uma resistência aos novos alimentos e preparações;
  3. Ofereça pequenas porções. Ao colocar pequenas porções no prato, a criança se sente capaz de consumir aquela quantidade e, caso ainda não esteja satisfeita, ela reconhecerá que a fome ainda não foi saciada e repetirá mais uma pequena porção.
  4. Cozinhe junto e reinvente as preparações. Prepare os alimentos ofertados de diferentes maneiras, utilizando temperos, métodos de cocção e receitas diversas. Estimule a criança a participar ativamente no preparo da sua alimentação, como por exemplo na escolha do lanche escolar. Quando a criança auxilia não só na montagem da refeição, mas também a arrumar a mesa e os utensílios, ela se sente com maior autonomia e mais estimulada a experimentar;
  5. Cuidado com as propagandas de produtos infantis. As crianças são muito vulneráveis às estratégias de marketing. Converse com seu filho e explique que a função da propaganda é promover a compra, e não informar, e limite a quantidade de tempo de exposição do seu filho a televisão;

REGRA DE OURO. Seja o exemplo e faça refeições em família. Coma junto com a criança e deixe que ela veja os alimentos que você consome. A criança tende a imitar e se espelhar naqueles que estão próximos. Portanto seja exemplo, influenciando de forma positiva a alimentação do seu filho.

*Maíra Barros – Nutricionista (CRN 9/16758)
Vanessa Fontes – Nutricionista e Fonoaudióloga (CRN 9/16764) (CREFONO MG/6231)

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